terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Conto de Terror #1 (3.ª Parte)

Eu nem sempre vivi ali. Até aos 7 anos fui feliz numa casinha de campo, acolá bem perto do lago azul de fumo, junto aos primeiros carvalhos de quem sobe a encosta pelo lado da igreja.
Recordo-me que brincava muito e sei que era feliz. Os meus pais eram o protótipo dos camponeses humildes e trabalhadores. Boa gente que ia à missa aos domingos, ajudando os mais carentes, nunca negando um caldo a um viajante mais necessitado.
E penso que foi assim que aconteceu, ou reconstruo a história da minha vida de modo a situar-me e compreender tudo o que me tem sucedido desde o tempo em que era muito alegre, despreocupada, infantil.
Ora bem... chovia muito naquela noite. O vento revoltara-se e inflingia chicotadas graves nas janelas. Pelas frestas das vidraças o frio percorria o interior da casa, nada estava seco, nada estava seguro. O meu pai mantivera-se acordado a noite toda, com medo que algo acontecesse à família. A minha mãe fizera-lhe companhia, aquecendo chás pela escuridão dentro, cantando músicas de uma serenidade fantasmagórica e indolente. Sei que conversaram muito nessa noite porque ainda hoje oiço os seus murmúrios interrompidos por risadas cúmplices e tranquilas. Sei que estavam bem na penumbra. Sei que foram assassinados em paz.
Que Deus os tenha!

4 comentários:

  1. Ja li isto ha uns tempos... nada de novo? :D

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  2. Já escrevi isto há bastante tempo, mas estou a organizar as escrituras espalhadas pelo computador neste blog (a tentar). Para que não morram comigo ;)

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