sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conto de Terror # 1 (2.ª Parte)

- Mafalda, tu não me vires as costas! Estou-te a avisar que a minha paciência tem limites e já há uns dias que nem me ouves! Escuta-me!!!!
Eu sei que lhe respondia como louca. Os meus gritos alterados elevavam-se sem eu decidir tal. Sentia que o som que se projectava da minha boca não fazia parte de mim. Tal como não sentia minhas as pancadas e arranhões que lhe deixavam marcas ferozes no rosto, nos braços. Apenas observava, petrificada, a minha irritação interna acudir o corpo e transformar-se numa dança tribal e violenta que frequentemente o levava a abandonar-me e a deixar-me apenas só, fechada, isolada. O meu salvador abandonava-me como se de uma fera me tratasse. Condenada à miséria de um quarto forrado de colchões de penas, plumas, nem sei. Supostamente protector, terrivelmente vazio e ensurdecedor.
Foi no silêncio daquelas paredes que deixei de ouvir. Lembro-me de ter acordado exausta uma noite e sentir um líquido quente a escorrer pelas orelhas. Sangue muito quente. A escaldar. Rebentei os tímpanos sem saber como. Senti apenas uma ligeira dor sem expressão. Não gritei porque nada me doía. Só via a camisa branca a ensopar-se de vermelho vivo. E eu a sentir-me cada vez mais morta.

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